A Última Iguana (2)
- John! John Carson-Smith, o meu amigo com o nome mais digno de um verdadeiro aristocrata! Entra, vem juntar-te a nós.
- Sempre o mesmo Bill... – Bill Morton passava a vida em orgias, excepto quando estava recolhido no abrigo. Aquelas festas eram das poucas coisas que ainda juntavam as pessoas, mas já lhe começavam a fazer sono. Aceitou o copo de vinho que lhe ofereceram (não fora ele que lho vendera?) e foi sentar-se num canto, sem muita disposição para aquilo tudo. Não conhecia a loura que se aproximou e se sentou ao seu lado.
- O meu nome é Inge, qual é o seu?
- Napoleão.
- É um nome bonito. – olhou um tanto incrédulo para ela até compreender que a sua graça não fora entendida. O nome de Napoleão Bonaparte era apenas uma sequência de letras esquecida entre as páginas de um livro velho. Mesmo ele só conhecia a personagem porque numa determinada fase da sua vida vendera réplicas de livros de história antiga. Decidiu estender o mal-entendido e não disse à loura o seu verdadeiro nome.
- Inge também é um nome bonito. – ela debruçou-se sobre ele e beijou-o.
O velho Murphy morrera. Um dos seus companheiros de habitação (Murphy vivia numa velha e enorme mansão) acordara um dia com o alarme do abrigo de Murphy e dera com ele já morto, com todas as funções vitais para além do ponto de não-retorno. Murphy era realmente muito velho...
- Estás muito pensativo, Napoleão... – a loura acordara. Encostou-se mais a ele soltando murmúrios ininteligíveis mas Carson-Smith soltou-se do abraço e levantou-se do chão da sala de Bill Morton. Os campos de batalha dos velhos tempos deviam ser assim, idênticos à sala de Bill depois da orgia do dia anterior. Havia corpos espalhados por toda a parte e um caos desarrumado tomara a liderança por ali. Foi até à cozinha para beber alguma coisa e encontrou Bill a revirar os armários apenas com uma toalha enrolada à volta da cintura. Lembrou-se que estava nu...
- Olá John! Grande festa, ehm?
Encolheu os ombros e compôs uma expressão ambígua para transmitir um misto de enfado e satisfação.
- Sabes qual é a grande novidade?
- Não.
- O William Ashton, sabes, aquele que tem a empresa de transportes para as colónias, – disse-lhe que o conhecia, àquele louco que preferia viver ali quando, com o dinheiro que possuía, podia viver em qualquer colónia exterior – pois fica sabendo que ele conseguiu obter um animal!
- E então, qual é a novidade? Existem muitos empalhadores que possuem antigos exemplares para venda, eu próprio já vendi alguns.
- Não compreendeste, John: o William Ashton tem uma iguana viva, uma iguana que se mexe, que come, que faz tudo quanto uma coisa viva pode fazer!
Ficou a olhar para ele, pouco crédulo, perante a barbaridade que ouvira: um animal vivo! Aquilo era uma coisa que já o interessava. Um animal vivo valia milhões se o conseguisse vender em Lasthope; só existiam dois pequenos obstáculos: ele não era o dono da iguana, e o dono certamente não a quereria vender. Olhou para Bill:
- Lembras-te daquilo que fizemos há dez anos em Sandhill?
- Perfeitamente. Se nos tivessem apanhado não estaríamos vivos hoje, mas sempre pensei que conseguíssemos mais pelo automóvel. Afinal, era uma réplica perfeita de um Ford Traveller de 2060!
- A velha raposa do Murphy descobriu logo que o carro era roubado. Ele até foi generoso, não era costume dele pagar tanto por coisas roubadas.
- Agora não compra mais nada...
- Sim, se está em algum outro lado, deve ser num sítio onde as coisas se obtêm de graça.
- Eles fazem isso no Inferno?
Os dois homens riram-se.
- Qual é a tua ideia? – disse Bill enquanto se vestia.
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